sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Big bang


De um e-mail que mandei hoje:
"Meus prosaicos estudos de judaísmo me levaram, por exemplo, a Catherine Chalier; ela é maravilhosa, trabalha o feminino no judaísmo através da dimensão da Escuta. Se pararmos pra pensar, Deus nunca foi “figura” ou imagem”, ele sempre se fez ouvir: ele sempre teve um lado mais feminino que masculino, pelo menos na tradição judaica.
Até porque, segundo o esquema de que finito e infinito são podem por natureza ocupar o mesmo espaço e tempo- sob o risco do pobre finito se foder neste confronto impossível, neste face a face de consciências desiguais-, a “imagem” do Divino equivale à fulminação do finito, e com a fulminação do finito, nada de testemunhas. E sem testemunhas, que Deus haveria, não? A “invisibilidade” de Deus- interdição de sua imago- preserva não só a existência do finito, mas igualmente a essência do próprio Deus, na medida em que Ele necessita de testemunhas que o “revelem”, através da palavra; precisa de alguém –finito- que resista ao próprio Deus, ao seu voraz abismo de ausência de significação.
Sem a palavra do homem, este ente dotado do acesso ao próprio ser, para Heidegger, Deus tb não seria, ou antes: Deus seria relegado ( não seria) ao seu limbo originário, à morada brumosa, aconchegante, grisâtre, espectral que é o seu casulo: o Nada.

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