segunda-feira, 30 de novembro de 2009




"Estamos tão habituados... a fazer de Jesus o objeto da religião que nos tornamos capazes de esquecer que em nossos registros mais antigos ele é retratado não como o objeto da dreligião, mas como um homem religioso".

Thomas Walter Masnson, The teaching of Jesus.



Segunda epístola de Pedro:

"Antes de mais nada, deveis compreender que os últimos dias virãos os escarnecedores com seus escárnios... e dizendo: "Em que ficou a promessa de sua vinda? ...Mas não ignoreis o fato , amados, de que para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos apenas um dia. O Senhor não tarda em cumprir sua promessa... mas usa de paciência para convosco, por não desejar que ninguém pereça, mas que todos alcancem o arrependimento. ( 2Pd, 3, 3-9).




"Se Jesus realmente acreditava que o Reino de Deus estava próximo- e toda a evidência disponível aponta que ele assumiu todos os riscos a este respeito- sua convicção de que restava muito pouco tgempo para que as pessoas alterassem seu rumo e se dedicassem sem reservas a "buscar o Reino", permeava a todos os seus atos e definia a natureza específica da devoção que buscava inculcar. Diferentemente da visão religiosa que considera o futuro garantido e a vida num contexto grupal solidamente estabelecido, o ardor escatológico exige uma completa ruptura com o passado, concentrando-se exclusivamente no momento presente e agindo não em perspectiva comunitária mas pessoal".


Geza Vermes, A religião de Jesus, o judeu




(...) En voilà l'exemple sous nos yeux; les calamités suivies, les malheurs effrayants et sans interruption que l'Éternel me donne de me repentir de mes travers, d'écouter la voix de mes remords et de me jeter enfin dans ses bras... ( ...) je vous attends dans un monde meilleur, vos vertus doivent vous y conduire, puissent les macérations dont je vais, pour expier mes crimes, accabler le reste de mes malheurs me permettre de vous y revoir un jour. ( ...). Ó Vous qui lirez cette histoire, puissez-vous en tirer le même profit que cette femme mondaine et corrigée, puissez-vous vous convaincre avec elle que le véritable bonheur n'est que dans le sein de la vertu et que si Dieu permet qu'elle soit persécutée sur la terre, c'est pour lui préparer dans le ciel une plus flatteuse récompense".

Sade, Os infortúnios da virtude


"Eloi, Eloi, lama sabachtant?"

Últimas palavras na Cruz do judeu Yeshua.


domingo, 29 de novembro de 2009

Poxa!, o texto do Derrida sobre Edmond Jabès, que reli há pouco, na Escritura e a diferença ( um dos livros mais geniais do século 20, aliás, e pra ser lido como apêndice precioso da Estrela da redenção do Rosenzweig) é a sintese suntuosa da questão da Alteridade e suas correlações: a Lei, O Significante, a Herança, a Fabulação e a única infinitude que nos foi destinada, aninfinitude dos signos, em seu demoníaco ( divino?) redemoinho de associações.


Para download aqui:

http://www.4shared.com/get/105678477/e64727ae/A_Escritura_e_a_Diferena_-_Der.html


"La notion de l'Être irrémissible et sans issue constitue l'absurdité foncière de l'être. L'être est le mal, non parce que fini, mais parce que sans limites".


Émmanuel Lévinas


"l Absurdité de l'être tient donc dans la conjonction déroutante de son incorruptibilité, de son incessante et bourdonnante présence- l'il y a- et de son absence de justification. Telle est l'ampleur d'un mal qui ne laisse pas d'échappatoire, pas même celle du suicide puisque le "ne pas être" est peut-être impossible. Ni la negativité ni la mort ne mettent un terme à la toute-puissance envahissante de l'être puisque, bien que tentant de le repousser, elles se voient d'emblée submergées par lui. "Le vide que si creuse se remplit aussitôt du sourd et anonyme bruissement de l'il y a, comme la place laissée vacante par le mourant, du murmure des postulants'. Toujours en effet l'il y a vient occuper et combler 'le vide que laisse la négation de l'être'. Toujours il astreint à supporter sa démesure, à se confronter à la douleur de son absence de justice et de signification, et à subir, en conséquence, son pouvoir de désorientation si total qu'il fait perdre, dans l'horreur, jusqu'au sens de son moi. (...) Tell est la pure immanence d'un monde qui s'attache à persévérer dans son être, comme s'il s'aggissait d'une fin en soi, d'une fin à ne subordonner à rien d'autre, à nulle exigence qui viendrait tempérer l'élan aveugle et sourd. Et tel l'effroi d'un univers 'sans traces humaines où la subjectivité a perdu sa place au milieu d'un paysage spirituel qu'on peut comparer à celui qui s'offrit aux astronautes qui, les premiers, mirent pied sur la lune où la terre elle-même se montra déshumanisé'(...)

Tel est donc le malheur absurde: l'engloutissement de la signification par l'essence et l'acceptation, résignée ou non, de la toute primauté d'un intéressement à l'être que rien ne questione et surtout pas son absence de justification"


Cathérine Chalier, La pérsevérance du Mal. Com citações de Emmanuel Levinas.
E degli anni ancor non nati/ Daniel si ricordò.

Manzoni, Inni sacri: La Ressurrezione, versos 55-56.



http://www.youtube.com/watch?v=uzFiQBDqa6s

A escritura e a diferença




"Aperiam in parabolis os meum/ eructabo abscondita a constitutione mundi".

( Sal., 78,2; Mat., 13, 15.)

Jesus repete as palavras do Profeta- intencionalmente. Mas qual o sentido desta repetição? A pergunta é fundamental, pois até as palavras extremas- as palavras gritadas na hora nona da Cruz ( Mat., 27,46) repetem o início do Salmo 22, de Davi.
Em Jesus, a repetição sublinha o distanciamento, a diferença. A palavra de Jesus não é a do Profeta, não é a do Antigo Testamento. É Outra. E de uma alteridade que não permite mediação, mas somente um rígido aut/aut ( ou/ou). O episódio do discípulo que pede a Jesus permissão para ir sepultar o pai e ouve uma resposta brusca- "Segue-me e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos" ( Mat, 8, 22)- é sumamente instrutivo. Mesmo o ato de piedade mais antigo é considerado vão se, e na medida em que, pertence ao mundo. Ao Mundo da Lei, do visível. "Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fito de serdes vistos por eles" ( Mat, 6,1). (...) O imperativo de "dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus" não tem o significado banal de distinguir duas Cidades,a religiosa e a política, mas o propósito profundo de marcar a diferença insuperável entre o interior e o exterior, a consciência e o mundo" : "os cuidados do mundo sufocam a palavra, que fica infrutífera" ( Mat., 13, 22).

Aperiam in parabolis os meum- a palavra de Jesus não é ponte entre exterior e interior, consciência e mundo; pelo cpontrário, é a espada que os cinde. Jesus fala por parábolas, isto é, de modo oblíquo, pois tem consciência de que aquilo que tem a dizer não é dizível na língua do mundo- na única língua que há. (...) aos discípulos que lhe perguntam porque das parábolas, Jesus responde que eles o entendem porque conhecem "os mistérios do reino", mas não os outros, "que vendo não vêem e ouvindo não ouvem" ( Mat., 13, 10-13).
(...) Em verdade, Jesus , ao contrário do que se possa supor, fala a todos e para todos. Compreendem-no, porém, apenas aqueles que entendem, para além do significado explícito das palavras ( da Lei, destinada a regrar o visível) os mystéria, aquilo que nas palavras se re-vela continuamente. Os que compreendem que palavra é por n atureza dúplice, oblíqua, mentirosa. Pois o divino não é traduzível em linguagem. Como bem expressa João: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevalecem contra ela" ( João, 1, 5)
(..) Quando Jesus anuncia pela primeira vez a sua morte- a sua morte para o mundo e no mundo já desde sempre ocorrida- a Pedro que, perturbado, lhe diz: "Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá", ele replica: "Arreda, Satanás; tu és para mim transtorno ( skándalon), pois não cogitas das coisas de Deus , e sim dos homens" ( Mat. 16, 23).
Satanás aqui designa o mundo dos homens. Das coisas humanas. O reino da exterioridade. Da Lei. (...) Para o próprio Jesus, o mundo é insídia e armadilha- por isto ele o teme. Por isso tem de falar de sua morte. E de sua ressurreição. Que não é um retorno à vida, um renascer, após a morte do corpo. A ressurreição consiste na própria morte: a morte para a exterioridade da Lei, que é vida na interioridade da fé, ou seja, da consciência."


Viincenzo Vitello, Contribuição para uma topologia do religioso: Deserto, Ethos, abandono


... mas certamente este não é o Jesus judaico, o Jesus de Marcos e de Mateus ( ou parte de Mateus), e sim o de João e Paulo...Jesus, desta perspectiva subjetivista, é um antecessor de Kierkegaard?, aliás filho de outra cisão- ou abjuração-, do protestantismo, assim como o cristianismo foi uma abjuração/cisão/heresia do judaísmo? ...é preciso retomar a genealogia dos heresiarcas, meus amigos...

Du Néant qui vient à l'idée





"Deus, antes da Criação, é o Tudo; depois, ah!, depois Deus é o Nada?
O Tudo é invisível. A visibilidade está entre o Tudo e o Nada, em cada uma das partes arrancadas ao Tudo.
Para criar, Deus colocou-se fora de si próprio, com a finalidade de poder penetrar em si e destruir-se.
Depois de ter criado o mundo, Deus foi o Tudo sem o céu e a terra.
Depois de ter criado o dia e a noite, Deus foi o Tudo sem os astros.
Deppois de ter criado os animais, os vegetais, Deus foi o Tudo sem a fauna e a flora do globo.
Depois de ter criado o homem, Deus foi sem vulto.
Ninguém viu Deus, mas as etapas de sua morte são, para cada um de nós, visíveis."

O livro das questões, Edmond Jabès



"Deus não é Deus. Deus não é Deus. Deus não é Deus. É. É antes do signo que o designa. Antes da designação.
É o vazio antes do vazio, o pensamento an tes do pensamento; logo, é também o impensado antes do impensado- quase como se pudesse haver um nada antes do nada.
É o grito antes do grito, o tremor antes do tremor.
É a noite sem a noite, o dia sem o dia. O olhar antes do olhar, a escuta antes da escuta.
É o antes da respiração. O ar inspirado e expirado pelo ar. Ainda não vento, mas o ar leve, indiferente, e seu ócio primitivo.
Oh, infinito vazio!!!!"


Edmond Jabès, O percurso.

"Nós somos pensamentos niilistas criados por Deus".

Franz Kafka.

"Dieu est à la fois le proche et le lointain, extérieur à l'univers et le pénetrant partout. Il est l'Être et le Devenir. (...) La transcendence de Dieu vient de ce que rien de ce qui est créé n'est contemporain de Dieu. La création s'étant tout entière réalisée dans le temps de l'histoire, aucun de ses éleménts n'existait dans le non-temps de Dieu. L'extériorité de Dieu par rapport à sa création est véritablement absolue, et cette absoluité se retrouve dans le non-temps de Dieu. L'Histoire cessant, cette absoluité disparaît: il ne reste que Dieu dans son non-temps. C'est le schéma de la fin qui constitue, en tant qu'eschatologie, la réplique de la cosmologie de l'origine"

Andre Neher, A essência do profetismo



quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Escuta, Jerusalém



"Parce que Dieu et le "Lieu" du monde, l'"ardeur" l'embrasse dans ce monde. Un tsadik a dit qu'il y avait deux sortes d'amour, l'amour d'un homme pour sa femme, qui est consommé en secret, et l'amour pour ses parents et enfants, qui n'a pas besoin d'être caché. De la même façon, il y a deux sortes d'amour de Dieu. I y a l'amour par l'intermédiaire de la Tora, de la prière et de l'accomplissement des commandements, qui est consommé silencieusement pour ne pas conduire à la vanité et à l'orgueil. Et il y a l'amour dans le temps, quand une personne se mêle aux autres, donne et reçoit, écoute et parle, et "s'attache" à Dieu en secret:


"Et ce dernier stade est plus elevé que le premier. Et on dit de lui: "Qui Te donne à moi comme un frère qui a tété le sein de sa mère! Si je Te trouvais dans la rue, je Te donnerais un baiser et ils ne pourraient se moquer de moi" ( Prece hassídica)."


Martin Buber.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Niilismo ativo, niilismo reativo



"(...) un monde sans Dieu est, je pense, um monde òu, selon l'expression de Dostoievski, tout est permis, où le réel épuise sa signification dans ses apparences e où il fault être "réaliste". Un Dieu sans monde, c'est une vie spirituelle sans prise sur le réel, une vie de pure évasion et que l'on cesse de prendre au sérieux dès que les loisirs qu'on s'est accordés pour cette vie sont terminés. La vocation de l'homme entier- la vocation du pieux, du juste ou du gracié- consisterait, d'après cette conception du hassidisme, à agir dans le monde comme si Dieu y était présent partout et jusque dans l'immédiat et le sensible; il consisterait à servir Dieu, non pas aux heures d'élevation d'un culte, mais dans toutes les entreprises de la vie quotidienne. La personne humaine, le "je", hic et nunc, empêtrée dans ses problèmes et ses soucis serait un moyen de sanctification. Le Moi humain serait ici la réunion du profane et du sacré. Il ne serait pas une substance, mais un rapport. L'homme est pont, comme le voulait Nietzsche, passage, dépassement. Il faut, d'après cette conception du hassidisme, ressentir dans cette présence concrète au monde une élévation du monde, faire jaillir les étincelles de là-haut qui sont assoupies ici-bas, ,les recueillir et les ramener à l'Ardeur originelle dont elles étaient descendues".


Émanuel Lévinas, La pensée de Martin Buber et le judaïsme contemporain

quinta-feira, 19 de novembro de 2009



Ruah, locução.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Ruah


" Au sommet, la ruah est l'Esprit, dans sa grandeur, sa majesté, sa sollenité et aussi son unicité. C'est, dans la Bible déjà, quoique très rarement, ruah qodech, l'Esprit de sainteté, plus souvent: l'Esprit de Dieu. (...). L'esprit de Dieu est un principe supérieur d'activité, de création, dans le monde. Dieu envoie son esprit, le fait planer, le concède aux uns, l'enlève à d'autres. L'esprit, dans ce sens, n'est pas un attribut de Dieu, mais un principe absolu de révélation. Dans plusieurs textes bibliques, la ruah de Dieu est la plénitude de l'univers, la présence intime de Dieu dans sa création.
C'est le cas notamment des visions d'Ézéchiel que nous signalons tout à l'heure. La ruah est l'élément de la vie surnaturelle. (...) Mais la ruah n'est pas toujours , dans la Bible, ce principe plénier et objetctif. La ruah est, parfois, une qualité subjective de Dieu, un attribut de son caractère. On parle de l'esprit de Dieu comme on parle de son âme, népéch, de son coeur, leb. L'esprit n'est alors q'un fragment de la personne divine, son intention, la direction de sa volonté, sinon sa volonté elle-même. Cette aception ne distingue plus guère la ruah de Dieu de la ruah de l'homme. La perspective est anthropomorphique. Car l'homme possède également une ruah, siège de ses émotions et de ses passions. La ruah de l'homme est exaltée, joyeuse, triste, affligée, haletante, lourde , et la ruah de Dieu connaît , elle aussi, ces hauts et bas, ces élans et ces repentirs. IL ya a lá un aspect psychique de la ruah, différent de son aspect métaphisique ou cosmique. (...) Mas il faut descendre davantage encore. La ruah de l'homme n'est pas seulement le siége des passions , mais aussi des contradictions. Elle est le lieu de l'anormal, du morbide. L'homme posséde, parfois, dans la Bible, une ruah raa, un esprit mauvais. Et celui-ci n'est plus une simple qualité de la personne humaine, mais un principe objectif, installé dans l'homme pour une durée et avec une intensité plus ou moins importantes. Or, cette ruah raa est, souvent explicitement, mais toujours implicitement, dérivée de Dieu. La ruah raa est la ruah de Dieu, venant se loger temporairement dans un individu ou une collectivité. Mais alors qu'ailleurs la ruah de Dien vient épanouir la personalité, ici, la ronge. Saul est finalement détruit par elle. (...). Parfois, elle se nuance. De mauvaise qu'elle est, par principe, elle devient mensonge dans la bouche des prophètes, léthargie et impureté dans le coeur du peuple. Ce dernier terme est significative. L'impureté, antitétique de la pureté, est une manifestation de la ruah de Dieu. (...) Dans ce saississement de l'homme par une ruah extérieure qui l'attaque pour l'amoindrir et le corroder, il y a une note de demonisme. Le paradoxe est complet. Sur le plan de la révelation, la ruah de Dieu concentre sur elle le pouvoir spirituel à tous ses niveaux: depuis la spiritualité abstraite et suprême jusqu'à l'émanation magique; depuis la pureté jusqu'à l'impureté; depuis Dieu jusqu'à Satan".
Andre Neher, L'essence du prophétisme