quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010




"S'il y a un monde où, cherchant la vérité, et des règles de vie, ce que l'on rencontre, ce n'est pas le monde, c'est un livre, le mystère et le commandement d'un livre, c'est bien le judaïsme, là où s'affirme, au commencement de tout, la puissance de la Parole et de l'Exégèse, où tout part d'un texte et tout y revient, livre unique dans lequel s'enroule une suite prodigieuse de livres, Bibliotèque non seulement universelle, mais qui tient lieu de l'univers et plus vaste, plus profonde, plus énigmatique que lui".

Maurice Blanchot, L'entretien infini.



Acho que já escrevi isso aqui: um texto é uma superfície de signos que remete sempre a outros textos para ser compreendido, constituindo assim uma cadeia infinita ( circularmente infinita) de implicações, reelaborações, cristalizações. Nesse sentido, tudo é texto: uma obra de arte, um corpo, objeto de nossos afetos ( era Albertine quem eu ia à beira do mar de Balbec, em sua bicicleta? não, eram todas as suas amiguinhas, e a própria cidade de Balbec, com seu cassino e minha iminente partida para Paris).

Dai a D'us o que é de D'us...



"Malgré sa fixité de document étalé sur les pages des traités talmudiques, la Thora retrouve son essence d'orale sur les lèvres des hommes adonnés à l'étude, comme si le verset 59,21 d'Isaïe, qui souhaite à la Parole de Dieu de "ne jamais quitter les lèvres des fidèles", ne procédait pas d'un quelconce souci pour la fidélité des fidèles mais importait à la signifiance de la parole. Sur les lèvres des hommes, la sagesse talmudique retrouve le débat, la contradction et, ainsi, les possbilités- notamment par le midrach- de l'incessant renouvellement, d'une éventuelle sublimation ou d'une nouvelle chance, pour un rite comandé dans l'absolu, de s'insérer dans le réel qu'il semble transcender.Débordant le cadre subdisiaire et marginal du commentaire où il échoit, le propos de la Thora Orale est approfondissement et découverte, mise en question des lieux communs- devenus communs à force de demeurer immédiats. Élévation de la lettre du texte et du sens littéral à l'esprit, de par l'acuité du regard prêté aux allusions qui environnet la première sugsestion du sensé, elle s'est fait la mauvaise réputation de manquer d'esprit. Elle rend à la Thora écrite sa vrai mesure et même l'indispensable démesure de la recherche s'ouvrant précisément sur une lecture infinie à perspectives inattendues. Lecture qui est aussi, et sans métaphore, adoration. Modalité ou ambition extra-ordinaire du spirituel dans cette lecture-étude:spéculation monothéiste qui est aussi liturgie; spéculation en guise de déchiffrage du verset inépuisable; herméneutique audacieuse, mais piuse écoute des ordres souverains, préoccuppée d'obéissance et d'insertion dans le concret du monde. Dans la respiration de cette spiritualité, distinction certes entre la formulation impérative des règles de la sainteté- égards envers autrui, envers le faible ( la veuve, l'orphelin, l'étranger), rites et cérémonies, mais déjà aussi approchedu Saint, béni soit-Il, du transcendent; approche qui s'avou dans l'étude et l'amour du prochain, plus proche que toute vision-, distinction, ainsi, entre halakha, ordre impératif de la conduites, et l'ordre ou mode indicatif, l'ordre du savoir à travers les analogies et les desproportions suggestives de la métaphore et de la parabole: ordre de la aggada, de la légende, de la fable, du récit, de l'apologue. Et, dans la respiration de l'esprit, insensible transition d'un ordre à l'autre; revendication de la raison- et osée et pure- à côté du miracle intellectuel du midrach, désignant et recherche et travail, et probléme et sa solution".
Emmanuel Levinas, prefácio à Leitura infinita, as vias da interpretação midrática, de David Banon


Na cerrada fortaleza de aríetes sintagmáticos que forjam um cosmo, um texto que magnifica o Uno como Origem e Destino do Múltiplo, mas que só respira e vige- resfolega, vibra, arde, mina, satura, incandece, esgarça, sangra e morre- por meio deste múltiplo. Senão, seria letra morta, etc. E o resto seria silêncio, como bem disse o outro.

Maravilhoso prodígio de arquitetura, de féerie mística e de esquizofrenia também.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"Os profetas como tribunos do povo: eles fundiram em uma única noção "rico", "ímpio","mau", "violento". (...) Nisto redide a importância do povo judeu: é a revolta dos escravos na moral. ( O Judeu e o Sírio, nascidos para a servidão, segundo Tácito). "Luxo enquanto crime". O nome ( Ebion) "pobre" torna-se sinônimo de "santo" e de "amigo de Deus".

Nietzsche, Notas para Além do bem e do mal.


Os despossuídos da Terra ( de um Estado sobre a Terra, eis) ganham o latifúndio do espírito, a garantia de um pacto societário com o expropriador por excelência do Cosmo, o Deus reativo do Antigo Testamento, que precisa aniquilar para edificar, selar o Homem com o opróbio de uma carência para empamzinar-se de ser. O anátema de Nietzsche contra os judeus é intoxicado de fascinação; ele vê neste povo a exaltação primeira, originária do que ele só consegue viver raquítica, negativamente: povo que efetivou a revolta paradigmática dos escravos, a inversão no sentido e na direção da força típica destes; quando os escravos voltam a força "reativa" contra os detentores da força "ativa", os senhores, ou seja: o povo que transformou o Não em Sim, a reação em ação, induzindo os senhores à culpa e à má-consciência, à introjeção doentia da força.
Nietzsche sabe que o predomínio da negação, em qualquer instância- mesmo se esta é dirigida por uma vontade de potência ativa, dirigida contra o escravo- é acumpliciar-se com a decadência, com a virose dos tempos modernos ( consciência, dever moral, homem auto-centrado, etc). Por isso, ele é absolutamente consequente, mesmo em seu fascínio por um povo de sacerdotes, de chefes que induzem à tranformação da ação em "espírito", do guerreiro no homem interior; no virulento, sistemático e coercitivo projeto de "ativação" das forças reativas deste povo, ele contempla, sub specie aeternitatis, o gênio, que sempre almejara a emular, de uma força que se traveste de seu contrário- a máscara da máscara- e se eterniza, ao longo da ciranda interminável de metamorfoses da aparência.